 
									Uma história comum que ouço é: “Vou começar a treinar quando a dor nas costas passar.” Ou, “Preciso de me livrar desta dor no ombro antes de voltar a treinar.” À primeira vista, isto parece lógico. Por que haverias de movimentar uma zona dolorida? Mas, na maioria dos casos, esperar que a dor desapareça completamente antes de ser ativo não só é desnecessário — como pode, na verdade, atrasar a recuperação.
Sim, há momentos em que o repouso é necessário — como após uma lesão significativa (uma fratura, uma rotura grave ou uma cirurgia). Nesses casos, a autorização médica e a reabilitação estruturada são essenciais. Mas a maioria das rigidezes no pescoço, dores nas costas ou irritações no ombro não exigem parar a vida e o movimento.
A dor é complexa. Nem sempre é um sinal direto de dano — pode ser influenciada pelo stress, pelo sono, pelas lesões anteriores ou até pelo medo de movimento. Se respondemos parando toda a atividade até “estar perfeito”, muitas vezes perdemos força, flexibilidade e confiança, o que pode agravar o problema a longo prazo.
A investigação mostra de forma consistente que o movimento progressivo — feito de forma a respeitar a dor mas sem evitá-la totalmente — ajuda os tecidos a recuperar, reduz a sensibilidade e aumenta a resiliência. Por exemplo, pessoas com dor lombar melhoram frequentemente mais com caminhada, treino de força leve e mobilidade do que apenas com repouso. A evitação, por outro lado, está fortemente ligada a dores mais persistentes e incapacidade.
Vê a questão desta forma: tecidos doridos ou irritados muitas vezes precisam de carga, não de proteção. O corpo adapta-se ao que fazemos regularmente. Se expuseres gradualmente as costas doridas a movimentos seguros — por exemplo, começando por caminhar, trabalho ligeiro de core ou exercícios modificados no ginásio — é possível ganhar tolerância e recuperar mais rapidamente do que se “proteges” indefinidamente.
A chave não é parar, mas sim adaptar.
Isto não significa ignorar a dor — significa encontrar o ponto de entrada onde o movimento é suportável e progredir a partir daí.
A ideia de que a dor tem de desaparecer antes de começar a treinar simplesmente não é suportada pela evidência. Na verdade, esperar muitas vezes deixa as pessoas presas. O movimento é parte da “solução”. E para além da dor, a atividade física traz benefícios massivos: melhor humor, saúde cardiovascular, densidade óssea, alívio do stress e músculos e articulações mais fortes — tudo isto ajuda a prevenir problemas futuros.

A não ser que tenhas sofrido uma lesão grave que exige repouso médico, não precisas de “esperar estar curado” antes de ser ativo. Em muitos casos, o movimento é a cura. Trabalha dentro dos teus limites, adapta a atividade e lembra-te: é melhor mexer-se de forma imperfeita do que não se mexer de todo.
O teu corpo foi feito para se adaptar — deixa-o fazê-lo.